Chá dos Açores
Durante o século XVI, o chá foi apresentado a padres e comerciantes portugueses na China, que posteriormente o introduziram na Europa. Os portugueses deram-lhe o nome de Chá porque o caractere chinês para “chá” pode ser lido como Te (que vem da palavra malaia para “beber”) ou como Cha (derivado da palavra em mandarim para “colheita”).
Acredita-se que a produção de chá tenha sido introduzida nos Açores no início do século XIX, por volta de 1820, por Jacinto Leite, um açoriano nascido na ilha de São Miguel. Na época, Jacinto trabalhava como comandante da Guarda Real de D. João VI no Brasil e decidiu criar a primeira plantação de chá em São Miguel, utilizando sementes que havia trazido do Rio de Janeiro.
O clima da ilha provou ser favorável para as colheitas e o cultivo do chá gradualmente ganhou apoio na ilha. Enquanto a produção e exportação de laranja — uma parte crucial da economia da ilha — estavam em declínio, a produção de chá emergia como um substituto promissor. Isso levou os membros da Sociedade Promotora Micaelense a considerarem a produção de chá como o próximo ciclo econômico da ilha.
Assim, a produção de chá tornou-se uma ocupação importante para o povo da ilha e sua economia, atingindo seu ápice na década de 1950, quando as exportações alcançaram a impressionante quantidade de 250 toneladas, resultado de 300 hectares de cultivo. Para uma pequena ilha no meio do oceano, esses números eram muito impressionantes e o futuro do chá parecia promissor.
No entanto, com as consequências da Primeira Guerra Mundial e da Proteção Aduaneira do Chá de Moçambique, a produção e exportação de chá nos Açores enfrentaram dificuldades adicionais. Essa situação desencadeou uma crise tão profunda que, em 1966, das 14 fábricas de processamento de chá, apenas 5 continuavam em funcionamento. Atualmente, existem apenas duas: a Fábrica de Chá Gorreana e a Fábrica de Chá Porto Formoso.
O que é o chá?
O chá é uma bebida aromática preparada ao derramar água quente ou fervente sobre folhas curadas da Camellia sinensis, um arbusto perene nativo da Ásia, do género Camellia — que em chinês significa literalmente “árvore do chá” — e pertencente à família das Teáceas. As plantas de chá são propagadas a partir de sementes e estacas. Leva entre quatro a doze anos para uma planta produzir sementes e cerca de três anos antes que uma nova planta esteja pronta para a colheita.
Todo o chá vem da planta Camellia sinensis e suas variedades. Em todo o mundo, existem cerca de 3.000 variedades de chá, todas com diferenças de sabor e características. As discrepâncias entre os tipos de chá residem na seleção e tratamento das folhas antes de serem preparadas.
Nos Açores, são produzidos dois "tipos" de chá — o Chá Preto (com as variedades Orange Pekoe, Pekoe e Broken Leaf) e o Chá Verde.
Chá Preto
Este é um chá que passa por um processo de oxidação mais intenso, resultando em um sabor geralmente mais forte do que outros tipos de chá. Muitas das substâncias ativas do chá preto não se desenvolvem completamente em temperaturas inferiores a 90°C. Por isso, no Ocidente, o chá preto é comumente preparado com água próxima do ponto de ebulição, cerca de 99°C.
Para produzir o chá preto, as folhas passam por sucessivos processos de trituração e enrolamento, o que causa um esmagamento parcial dos tecidos da planta. Em seguida, as folhas são expostas ao ar e passam por um processo lento de oxidação, fermentação e secagem.
Durante a colheita do chá, os brotos da planta são colhidos quando a maioria deles tem três folhas. Isso ocorre porque cada broto tem uma idade diferente e, consequentemente, diferentes composições químicas. Cada folha produzirá um chá com sabores e aromas distintos.
Na indústria do chá, a qualidade é classificada com base na qualidade e condição das folhas. As melhores classificações são conhecidas como “Orange Pekoe”, enquanto as de qualidade inferior são denominadas “fannings” ou “dust”. As folhas menores da planta de chá são mais valorizadas do que as maiores.
Tanto a Fábrica de Chá Gorreana quanto a Fábrica de Chá Porto Formoso produzem chás “Orange Pekoe” de alta qualidade. Esses chás são produzidos manualmente para garantir o melhor tratamento das folhas, com uma experiência de colheita de séculos. Embora a principal produção seja o chá preto (Orange Pekoe, Pekoe e Broken Leaf), ambas as fábricas também produzem chá verde e algumas misturas sazonais especiais para experimentar.
Existem três tipos de chá preto produzidos nas fábricas da Gorreana e Porto Formoso:
- Chá Preto “Orange Pekoe”: Considerado o chá de mais alta qualidade disponível, é extremamente aromático e leve. Obtido a partir da primeira folha e broto terminal da planta de chá.
- Chá Preto “Pekoe”: Feito da segunda folha da planta de chá, este chá possui um sabor e aroma menos pronunciados que o “Orange Pekoe”, mas com um sabor mais intenso.
- Chá Preto “Broken Leaf”: Produzido a partir da terceira folha da planta de chá, este chá tem um aroma e sabor mais suaves. Possui um sabor suave e um aroma subtil, com poucos taninos.
Chá Verde
O chá verde difere do chá preto, uma vez que não passa pelo mesmo processo de secagem e oxidação. Após a colheita, as folhas delicadas são separadas, limpas e então submetidas a vaporização ou fritura, dependendo do tipo de chá verde. Em seguida, as folhas são secas em bandejas.
Nas regiões onde se prefere uma bebida mais suave, o chá verde é preparado com água a uma temperatura em torno de 80 a 85°C. Durante a produção do chá verde, as folhas são esterilizadas com vapor, enroladas e depois secas. Isso resulta num chá rico em taninos, com um sabor intenso e uma cor verde característica.
Chá e Saúde
O chá contém compostos bioquímicos conhecidos como polifenóis, que incluem flavonoides. Estes últimos são também encontrados em frutas e legumes, sendo antioxidantes que ajudam a combater a degeneração celular causada por várias doenças.
Além disso, o chá é rico em vitaminas e minerais, proporcionando diversos benefícios. Além do poder antioxidante devido ao alto teor de flavonoides, que ajuda a retardar o envelhecimento celular, o chá auxilia na digestão e na redução do colesterol no sangue. Também contribui para a hidratação, redução da fadiga, aumento do estado de alerta e melhoria da concentração.
Sugestões
Escolha com sabedoria
- O chá preto é recomendado para ser bebido pela manhã, porque é mais forte e mais enérgico.
- O chá aromático é mais leve e pode ser apreciado à tarde.
- O chá verde é mais adequado para ser bebido no final do dia, ou após as refeições mais pesadas, como uma bebida digestiva.
Não demasiado quente
- Assim que a água começar a ferver, retire-a do fogo. O sobreaquecimento da água faz com que o chá tenha um sabor achatado. Imediatamente despeje a água na chávena, tape e deixe descansar.
- Se estiver a usar chá verde, deixe a água arrefecer ligeiramente (± 80ºC) antes de verter nas folhas.
Personalize a seu gosto
- Se vai adicionar limão e açúcar ao seu chá, adicione primeiro o açúcar, pois o ácido cítrico do limão impedirá a dissolução do açúcar.
- O leite é frequentemente usado em chás pretos encorpados, como o Broken Leaf.
- Não use natas, pois interfere com o sabor do chá.
- Não use leite com chá verde.
- Adicionar mel ao chá em vez de açúcar é uma maneira mais saudável de adoçar o chá.
Proteja o seu Chá
- O chá deve ser fechado num recipiente adequado. Os chás são facilmente contaminados por outros aromas, o que pode alterar a qualidade de um bom chá.